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Artigos Originais

Avaliação do índice diafragmático em pneumopatas e obesos hospitalizados

Evaluated of diaphrgmatic index in pulmonary disease patients and obesity hospitalized

Gisele Aparecida Presto Guedes1; Natália Matos Monteiro2; Adeir Moreira Rocha Junior3

Resumo

FUNDAMENTAÇÃO: A obesidade também é um fator que pode causar alterações na mecânica respiratória, devido ao acúmulo de gordura, reduzindo a complacência e o movimento diafragmático. A associação entre o índice diafragmático (ID) com os valores de Pressão Inspiratória Máxima (Pimáx) e Pressão Expiratória Máxima (Pemáx), podem nos mostrar mudanças com relação ao sistema respiratório.
OBJETIVO: Avaliar o ID, índice de massa corporal (IMC), índice cintura quadril (ICQ), Pimáx e Pemáx de pacientes internados e relacioná-lo com as doenças do sistema respiratório e com a obesidade.
MÉTODOS: Foram avaliados 30 indivíduos divididos da seguinte forma. Um grupo controle, composto por 10 indivíduos sem comprometimento do sistema respiratório e com peso normal de acordo com a OMS. O grupo dois composto por 10 indivíduos com comprometimento pulmonar e o grupo três, por 10 indivíduos obesos, mas sem comprometimento pulmonar. A análise estatística foi realizada utilizando a análise de variância anova e t-Students, com o nível de significância p<0,05.
RESULTADOS: De acordo com a análise realizada, observa-se que não houve uma diferença significativa nos valores de IMC, ICQ, Pimáx e ID; a obesidade não gerou prejuízo com relação à força muscular respiratória estática, como foi avaliado nas variáveis Pimáx e Pemáx.
CONCLUSÃO: Evidenciando maior força muscular em relação a indivíduos com peso normal.

Palavras-chave: Obesidade; Pneumopatias; Índice de Massa Corporal

 

INTRODUÇÃO

O índice diafragmático (ID) nos mostra a variação do movimento tóraco-abominal, determinado pelas mudanças nas dimensões ântero-posterior da caixa torácica e abdominal, que pode sofrer alterações por comprometimento pulmonar1. A obesidade também pode causar alterações na mecânica respiratória, devido ao acúmulo de gordura, reduzindo assim a complacência e o movimento diafragmático, o que pode levar a um maior consumo de oxigênio2. A obesidade vem aumentando de maneira significativa no Brasil3,4, por isso vemos a importância do estudo deste índice, associado ao índice de massa corporal (IMC), índice de cintura quadril (ICQ), pressão inspiratória máxima (Pimáx) e pressão expiratória máxima (Pemáx) em pacientes hospitalizados. Tais índices podem nos informar sobre alterações cardíacas e respiratórias5.

A Pimáx e Pemáx são consideradas desde a década de 60/70 como fator fundamental para avaliar a força dos músculos respiratórios de forma estática, tanto em indivíduos sadios ou com disfunção respiratória4,6. Sendo a Pimáx referente aos músculos inspiratórios e a Pemáx referente à força dos músculos expiratórios6.

O IMC é um dos mais utilizados indicadores antropométricos, devido a sua fácil utilização e baixo custo para a avaliação de indivíduos que apresentam risco nutricional5. A organização Mundial de Saúde (OMS) define como sobrepeso IMC igual ou acima de 25 e obesidade igual ou acima de 30, sendo que estes valores nos referenciam uma avaliação individual. Há evidências que mostram o risco de doenças crônicas a partir de um IMC acima de 213.

Cientes de que a obesidade e a alta prevalência de doenças do sistema respiratório são fatores frequentemente relacionados com o declínio da saúde7, deve-se buscar métodos de avaliação que identifiquem a perda do tônus da musculatura respiratória de forma precoce. Fato este, que reduziria a instalação de complicações e diminuiria o tempo de internação. Sendo assim, devido à insuficiência de dados sobre a relação do ID, com as doenças do sistema respiratório e a obesidade, este estudo tem como objetivo avaliar o ID, IMC, ICQ, Pimáx e Pemáx de pacientes internados e relacioná-lo com as doenças do sistema respiratório e com a obesidade.


MÉTODOS

Para tal, realizou-se um estudo no Hospital Maternidade Therezinha de Jesus (HMTJ), localizado no município de Juiz de Fora/MG, onde foram selecionados 30 indivíduos de ambos os sexos, adultos, com média de idade entre 25 e 60 anos, lúcidos, cooperativos, e que possuíssem algum comprometimento do sistema respiratório, obesidade ou ambos. Critérios de exclusão: pacientes com lesões degenerativas, obesidade grau III (IMC acima de 40kg/m2)3, redução do nível de consciência ou algum comprometimento que viesse a dificultar a coleta de dados.

Após a seleção da amostra os pacientes foram divididos em três grupos. Um grupo controle, composto por 10 indivíduos sem comprometimento do sistema respiratório e com peso normal de acordo com a OMS. O grupo dois composto por 10 indivíduos com comprometimento pulmonar e o grupo três, por 10 indivíduos obesos, mas sem comprometimento pulmonar.

Foi realizado com o paciente sentado a beira do leito, pés apoiados e joelhos fletidos a 90º, a aplicação de um questionário com dados pessoais, hábitos e prática de atividade física, o qual foi preenchido pelo pesquisador por meio de entrevista. Posteriormente foi feito a perimetria das circunferências do tórax, abdome e cintura com a utilização de uma fita métrica de plástico, realizada com o paciente em posição ortostática. Dados como altura e pesagem também foram coletados. A avaliação da altura foi realizada através de uma trena manual e o peso foi mensurada através de uma balança digital da marca Filizola com capacidade de 150kg e intervalo de 100g. A pesagem foi realizada pela manhã, com o paciente descalço, com o mínimo de vestimentas, cabeça em linha média e os braços ao longo do corpo.

Todos os indivíduos foram submetidos à avaliação do ID, que é (ID=Ä AB/Ä AB+ Ä CT), onde ID é o índice diafragmático e Ä é a diferença entre as circunferências abdominal (AB) e torácica (CT), medidas ao final da inspiração e expiração tranquila1. Posteriormente, realizou-se a avaliação das Pimáx e Pemáx que foram obtidas com a utilização de um manovacuômetro analógico da marca MVD300 com graduação de -120cmH2o a +120cmH2O e variações a cada 4cmH2O, tanto para Pimáx quanto para Pemáx. Para tal, foram realizadas três medidas a partir do volume residual e capacidade pulmonar total, sendo que a maior foi registrada. Os valores de Pimáx e Pemáx foram comparados com os valores de normalidade mostrados na tabela 110.




A partir da perimetria, altura e peso foi calculado o IMC, o qual é definido pelo peso em quilogramas dividido pelo quadrado da altura em metros (IMC=peso/altura2)3e ICQ que é circunferência da cintura (entre a última costela e a crista ilíaca=cct), pela circunferência do quadril (nível do trocânter maior do fêmur=cq), dado pela fórmula Rcq=cct/cq8, utilizou-se a classificação. RCQ acima do recomendado, em mulheres, RCQ>0,80; em homens, RCQ>0,909.

Os pacientes não foram submetidos a nenhum tipo de tratamento e não ocorreu interrupção ou intervenção no seu tratamento clínico. Os participantes estavam cientes do estudo e autorizaram sua participação através de um termo de consentimento livre e esclarecido (Anexo 1). Todas as avaliações e medidas foram realizadas em um único momento e por um único avaliador.

Após a coleta de dados estes foram submetidos ao teste estatístico para análise de variância anova e teste t-Students, ambos com nível de significância de p < 0,05. Este projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora/MG (CEP 014/08).


RESULTADOS

Dos 30 indivíduos, um foi excluído por apresentar um IMC abaixo do normal. Na tabela 2, observam-se os resultados relativos aos 29 indivíduos com indicação dos parâmetros analisados (media±desvio padrão). Sendo observada uma média de idade homogênea entre as amostras avaliadas.

O Grupo três composto por pacientes portadores de obesidade, destaca-se por ter obtido um melhor resultado no ID, Pimáx e Pemáx em relação aos demais grupos (tabela 1 e 2). Ao avaliarmos o ICQ observamos um resultado maior no grupo composto de pacientes com problemas respiratórios (grupo dois) quando comparados com os outros grupos, porém com resultados inferiores no ID e Pimáx.

De acordo com a análise estatística realizada, observa-se que não houve uma diferença significativa nos valores de IMC, ICQ, Pimáx e ID. Com relação ao ICQ quando comparados o grupo um com o grupo dois, observamos uma diferença estatisticamente significativa (p=<0,02) o que evidencia um aumento da circunferência corporal nestes indivíduos. Observou-se também, redução nos valores do IMC do grupo um e dois em relação ao grupo três, valores estatisticamente significantes (p=<0,05). E por último observou-se um aumento da Pemáx no grupo três com valores estatisticamente significativos quando comparados com o grupo controle (p=<0,02) (tabela 2).




DISCUSSÃO

De acordo com os resultados apresentados, observamos que o grupo com maior IMC, apresentou melhor ID, Pimáx e Pemáx o que contradiz estudo apresentado por Santiago e cols2, o qual relata sobre o aumento de tecido adiposo relacionado com uma diminuição dos volumes pulmonares, resultando alterações na relação ventilação/perfusão11. Fato este que, pode ser comprovado em obesos que sofreram redução do seu IMC de 50 para 37 kg/m2, pois estes pacientes obtiveram um aumento de 75% no volume de reserva expiratório, 25% de volume residual e na capacidade residual funcional e 10% de melhora na ventilação máxima voluntária12,14,15. Portanto, evidencia que a obesidade é um fator que gera redução significativa da força dos músculos da respiração e consequentemente diminuição do ID, o que pode ser verificado em outros estudos16-18. Em outro trabalho, foram comparados 29 indivíduos antes e depois de perderem peso, mas não foram encontradas mudanças significativas nos valores da capacidade inspiratória, na capacidade pulmonar total, na capacidade funcional residual e no volume expiratório forçado no primeiro segundo13. Porém ressalta-se a influência do tamanho da amostra nos valores obtidos, que é indicado como fator fundamental pela discrepância encontrada nos valores de Pimáx e Pemáx, podendo nos referenciar variabilidade dos mesmos6.

O IMC está relacionado com uma maior circunferência corporal, o que pode gerar melhor ID, mas não necessariamente uma melhor complacência pulmonar. O ID ainda não foi validado pela literatura, portanto, não pode ser usado como parâmetro separadamente. Pois quando ocorrer a mesma circunferência abdominal e torácica, terá sempre como resultado 0,5.

Existem evidências que explica a relação da obesidade com melhor força muscular, relacionando à quantidade de fibras musculares19, 20. Os indivíduos obesos apresentam maior quantidade de fibras do tipo II do que fibras do tipo I. O que pode está relacionado com uma adaptação do músculo, em resposta a sobrecarga imposta pela obesidade e/ou alterações metabólicas. Com isso, se a fibra do tipo II for predominante, o potencial de esforço dos músculos respiratórios, pode-se manter dentro dos níveis de normalidade, sem gerar alterações na Pimáx e Pemáx. Outro dado importante é que, os músculos dos indivíduos obesos têm diferentes características histológicas e metabólicas, apresentando mais massa muscular e uma maior reserva energética e com isso maior força de contração21.


CONCLUSÃO

Não houve correlação entre os parâmetros pulmonares e as medidas antropométricas. Mostrando que a obesidade não gerou prejuízo com relação à força muscular respiratória estática, como foi avaliado nas variáveis Pimáx e Pemáx, evidenciando maior força muscular em relação a indivíduos com peso normal.


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1. Especialização (Estudante - Faculdade Redentor-RJ)
2. Especialização (Estudante - Faculdade Redentor - RJ)
3. Mestrado (Docente da Faculdade de Ciências Medicas e da Saúde de Juiz de Fora -MG)

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