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Conhecimento sobre incontinência urinária em dois gruposde mulheres de diferentes níveis socioeconômicos

Knowledge about urinary incontinence in two groups of women from different socio-economic levels

Daniela Siqueira Prado1; Tatiana Isabel Azevedo Lima2; Vanessa Paula Lins Porto Mota3

Resumo

OBJETIVO: Avaliar o nível de conhecimento sobre incontinência urinária entre mulheres de diferentes níveis socioeconômicos frequentadoras de instituições privadas e públicas, bem como a prevalência de incontinência urinária e a busca por tratamento entre essas mulheres.
MÉTODOS: Estudo transversal, realizado com 197 mulheres, sendo 93 provenientes do serviço público e 104 do setor privado. Avaliou-se idade, estado civil, renda familiar, escolaridade, antecedentes pessoais, presença ou não de perda de urina e suas características e busca por tratamento; e todas as mulheres responderam ao Questionário Quiz que avalia grau de conhecimento sobre a incontinência urinária. Para análise estatística utilizou-se o programa SPSS (Statistical Package for Social Sciences) versão 15.0, aplicando-se o teste Qui-quadrado para variáveis categóricas e o t de Student para amostras independentes.
RESULTADOS: A maioria das mulheres dos dois grupos acertou nove das 14 afirmativas do Questionário Quiz. Apenas três das afirmativas tiveram diferença significativa nas respostas entre os grupos (p=0,004, p=0,04 e p=0,01). A prevalência de incontinência urinária foi maior no grupo do setor público (26,9%) que no do setor privado (14,4%) (p=0,03). Das 25 mulheres com incontinência urinária do setor público, 52% buscaram tratamento, e entre as 15 mulheres com incontinência urinária no setor privado, 60% buscaram tratamento (p=0,7).
CONCLUSÕES: Não se observou diferenças no nível de conhecimento sobre incontinência urinária entre os grupos. Os dois grupos apresentaram elevado nível de conhecimento sobre incontinência urinária. Observou-se maior prevalência no grupo do setor público, e similar frequência de busca por tratamento entre os dois grupos.

Palavras-chave: Incontinência Urinária; Classe Social; Fatores Socioeconômicos

 

INTRODUÇÃO

A incontinência urinária, segundo a international Continence Society (ICS), é definida como qualquer perda involuntária de urina1. Incontinência urinária de esforço é a perda involuntária de urina sincrônica ao esforço como espirro ou tosse; incontinência de urgência é a perda involuntária de urina associada ou imediatamente precedida por urgência miccional e incontinência urinária mista é a perda involuntária de urina associada com urgência e também com o esforço1.

A incontinência urinária é uma afecção que acomete milhões de pessoas de todas as idades e de ambos os sexos, em particular mulheres no climatério e pós-menopausa2. Sua prevalência varia de acordo com a idade e a população observada3,4,5,6. Estima-se que cerca de 17 milhões de norteamericanas tenham algum tipo de incontinência urinária6. Considera-se que uma entre quatro mulheres com idades entre 30 e 59 anos já teve um episódio de incontinência3. As taxas de prevalência de perda involuntária de urina encontram-se entre 8 e 58% na população adulta feminina geral6,7,8. Em um estudo realizado na noruega, em mulheres com mais de 20 anos de idade, a prevalência da incontinência urinária foi de 25%, sendo que em mulheres entre 80 e 89 anos, esse percentual foi de 46%2. Dados referentes à população brasileira, embora ainda incipientes, apontam prevalência de mulheres com incontinência urinária entre 26,2% e 43%5,9,10,11.

A investigação da paciente com incontinência urinária inicia-se com anamnese e exame ginecológico, que deverá reproduzir e caracterizar a perda urinária8,12. Uma entre nove mulheres pode ser desnecessariamente operada quando o diagnóstico se baseia apenas na propedêutica clínica8. Desse modo, os exames subsidiários devem sempre fazer parte da avaliação do diagnóstico8. A análise do sedimento urinário e a urocultura são obrigatórios, uma vez que a infecção do trato urinário pode ser a causa dos sintomas apresentados, bem como o estudo urodinâmico, que pela análise das pressões abdominal, vesical e uretral nas fases de enchimento e esvaziamento vesical, permite a caracterização mais precisa e objetiva do distúrbio urinário, sendo útil também para orientação terapêutica e seguimento das pacientes6,8,12.

Os fatores de risco relacionados à incontinência urinária incluem: idade, paridade, estado menopausal, uso de medicamentos e algumas co-morbidades (diabetes mellitus, acidente vascular cerebral, obesidade)2,5,6,13,14,15.

O tratamento vai depender do tipo e das causas da incontinência urinária. Pode ser comportamental, farmacológico, fisioterápico ou cirúrgico6,12,15,16,17.

No Brasil, são poucos os estudos sobre prevalência de incontinência urinária, fatores de risco, nível de conhecimento das mulheres sobre incontinência urinária e percentual de mulheres que procuram assistência médica com queixa de perda de urina10,18. No entanto, nos últimos anos, vários estudos avaliaram a qualidade de vida das mulheres incontinentes. Quando comparadas às mulheres continentes, as portadoras de incontinência urinária apresentam piora na qualidade de vida com impacto negativo sobre aspectos sexual, social e profissional4,7,19,20,21.

A porcentagem de mulheres que procura assistência médica com queixa de perda de urina e a porcentagem das que têm perda de urina regular ou esporadicamente têm se mostrado divergentes10,22. As taxas de procura por assistência médica encontradas em diferentes estudos são de 4%, 6%, 11% e 14%7,22. Muitas mulheres que apresentam graus leve e moderado de incontinência não procuram assistência médica por acreditarem que a incontinência urinária é uma condição normal e resultada do processo de envelhecimento7,23. Outras razões comuns para a não procura de tratamento são o fato de que as mulheres incontinentes têm constrangimento em falar sobre o seu problema, baixa expectativa nos benefícios do tratamento e falta de conhecimento de onde busca-lo7,23.

Tendo isso em vista, interessou-nos avaliar o nível de conhecimento sobre incontinência urinária em dois grupos de mulheres de diferentes níveis socioeconômicos, um constituído pelas frequentadoras de clínicas privadas e outro, constituído por freqüentadoras de ambulatórios do serviço público, bem como a prevalência de incontinência urinária e a busca por tratamento em ambos os grupos.


MÉTODOS

Realizou-se estudo transversal no ambulatório de Ginecologia do Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe (HU-UFS) e em duas clínicas privadas de atendimento na área de ginecologia e obstetrícia da cidade de aracaju, no estado de Sergipe, após a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética para Pesquisa em Seres Humanos das instituições.

Foram incluídas 197 mulheres com mais de 40 anos de idade, que aguardavam atendimento, no período de março a maio de 2009, sendo 93 provenientes do HU-UFS (Setor público), e 104 das clínicas privadas (Setor privado). Todas assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido após serem informadas sobre o objetivo da pesquisa.

Utilizou-se questionário constituído por duas partes. Avaliou-se inicialmente dados sociodemográficos (idade, raça, escolaridade, estado civil, renda familiar); antecedentes pessoais, ginecológicos e obstétricos como número de gestações, paridade, estado menopausal, existência de comorbidades, cirurgias ginecológicas prévias, presença de perda involuntária de urina e busca por tratamento. A seguir, as mulheres eram solicitadas a responder o Questionário Quiz de incontinência Urinária desenvolvido por Branch et al24 baseado nas recomendações da AHCPR (Agency for Health Care Policy and Research) e na experiência de autores no manejo de pacientes com incontinência urinária, que consiste em 14 afirmativas sobre incontinência urinária que as participantes poderiam responder "concordo", "discordo" e "não sei". Seis das 14 afirmativas eram verdadeiras, devendo ser respondidas com "concordo" e 8 eram falsas, devendo ser respondidas com "discordo". As afirmativas são agrupadas em quatro categorias: tratamento e efeitos da incontinência urinária, sendo três verdadeiras (Afirmativas 4, 5, 6) e três falsas (Afirmativas 11, 13, 14); causas da incontinência urinária, com três verdadeiras (Afirmativas 3, 8, 10) e uma falsa (afirmativa 12); relação entre idade e incontinência urinária com duas afirmativas falsas (Afirmativas 1 e 2) e discussão médico-paciente sobre incontinência urinária, também, com duas afirmativas falsas (Afirmativas 7 e 9).

Após a coleta das informações, os dados foram armazenados em planilhas do programa Microsoft office ExcelR , versão 2007, para WindowsR. Os cálculos estatísticos foram realizados por meio do programa SPSS (Statistical Package for Social Sciences) versão 15.0.

As variáveis numéricas foram descritas como média e desvio padrão. Quanto às variáveis categóricas utilizou-se para sumarizá-las frequências simples e relativas e intervalo de confiança para 95% quando pertinente. Utilizou-se o teste de Shapiro-Wilk para avaliar o pressuposto de normalidade. Para o teste de hipóteses relativas às variáveis categóricas utilizou-se o teste Qui-quadrado de Pearson ou exato de Fisher quando mais adequado.

A comparação entre os grupos (Setor público e Setor privado) foi realizada mediante teste t de Student para amostras independentes. O nível de confiança foi 0,05 para erro α e poder de 0,80 e os testes assumidos como bicaudais.


RESULTADOS

Não se observou diferença significativa entre a média de idade das pacientes dos grupos (Setor público: 52,8, setor privado: 51,6; p=0,3) (Tabela 1).




Em relação ao estado civil, observou-se maior prevalência de mulheres com parceiro no setor privado (76,6%), que no setor público 59% (p=0,01) (Tabela 1).

Verificou-se uma diferença significativa (p<0,0001) no grau de escolaridade entre os dois grupos, registrando-se uma maior prevalência de analfabetas (16,1%) e mulheres com o ensino médio (16,1%) e fundamental (62,4%) no setor público. No setor privado, registrou-se maior prevalência dos ensinos médio (29,8%) e superior (41,3%) (Tabela 1).

A distribuição de renda também diferiu significativamente (p<0,0001) entre os setores público e privado observando-se uma maior prevalência de mulheres com renda menor que 1 salário mínimo (39,8%) e de valor entre 1 e 3 salários mínimos (53,8%) no setor público, e salários maiores do que 3 salários mínimos (80,7%) no setor privado (Tabela 1).

Com relação aos antecedentes pessoais, ginecológicos e obstétricos, houve diferença significativa (p=0,05) no número de gestações entre os dois grupos. No setor público, 51,6% tiveram entre 3 e 6 filhos, enquanto que no setor privado, 49% tiveram de 0 a 2 filhos. Houve diferença em relação à quantidade de partos normais entre os dois grupos (p=0,05). No setor público, 46,3% tiveram três ou mais partos normais, enquanto que no setor privado tal porcentagem foi de 31,7%. A prevalência de realização de pelo menos uma cesárea foi de 28% em no setor público e de 39,4% no setor privado (p=0,09) (tabela 2).




Não foi observada diferença significativa no estado menopausal entre as mulheres dos dois grupos, 52,7% do setor público e 47,1% do setor privado encontravam-se na pós-menopausa (p=0,4) (tabela 2).

História de cirurgia ginecológica prévia foi reportada por 73,1% das mulheres do setor público e 74% das mulheres do setor privado (p=0,8) (tabela 2). A incontinência urinária foi referida por 20,3% das entrevistadas, sendo que houve maior ocorrência de episódios de perda de urina entre as mulheres do setor público (26,9%) que entre as mulheres do setor privado (14,4%) (p=0,03) (tabela 2).

Quando questionadas em relação ao tempo da perda de urina, 37,5% referiam perder urina há menos de um ano. Das mulheres incontinentes, 55% afirmaram já ter procurado assistência médica. Entre as 25 mulheres com incontinência urinária no setor público, 13 (52%) buscaram tratamento para a incontinência urinária, e no setor privado, das 15 mulheres com incontinência urinária, 9 (60%) buscaram tratamento (p=0,7).

Nove das 14 afirmativas do questionário Quiz sobre incontinência urinária foram respondidas corretamente por mais da metade das mulheres entrevistadas nos dois grupos (Tabela 3).




No tocante às afirmativas que abordam tratamento e efeitos da incontinência urinária, 31,2% das mulheres do setor público e 29,8% das do setor privado concordaram com a afirmativa de que a maioria das pessoas que tem perda involuntária de urina vive uma vida normal (Afirmativa 6). A afirmativa 13, que diz que a cirurgia é o melhor tratamento para a perda involuntária de urina, foi respondida corretamente por 36,6% das mulheres do setor público e 23,1% das do setor privado (p=0,04). Na afirmativa 14, segundo a qual existem exercícios que podem ajudar a controlar a perda de urina quando a pessoa tosse, ri ou espirra, 51,6% das entrevistadas do setor público e 67,3% das do setor privado responderam corretamente (p=0,01). A afirmativa 4, que diz que além dos absorventes, fraldas e sondas, pouca coisa pode ser feita para tratar ou curar a perda involuntária de urina, foi respondida corretamente por 78,5% mulheres do setor público e 85,6% do setor privado (p=0,3). Das mulheres entrevistadas, 93,5% das do setor público e 93,3% do setor privado (p=0,7) concordaram corretamente com a afirmativa de que muitas pessoas que têm perda involuntária de urina podem ser curadas e quase todas melhoram significativamente (Afirmativa 11). A afirmativa 5, que diz que assim que as pessoas começam a perder o controle sobre a urina e isto se repete de maneira regular, elas podem frequentemente nunca mais recuperar o controle completo, 82,8% mulheres do setor público e 89,4% do setor privado (p=0,1) responderam corretamente (Tabela 4).




Em relação às afirmativas que versam sobre as causas da incontinência urinária, grande porcentagem das mulheres em ambos os grupos, 88,2% do setor público e 84,6% do setor privado (p=0,7), discordaram com a afirmativa de que a incontinência urinária pode ser causada por somente uma ou duas condições (Afirmativa 10).

Na afirmativa 3, 53,8% das mulheres do setor público e 44,2% das do setor privado (p=0,1), concordou que medicamentos podem causar perda de urina. A afirmativa 8 diz que as mulheres têm mais chances de desenvolver incontinência urinária do que homens e a 12, afirma que a perda involuntária de urina pode ser causada por várias condições médicas de fácil tratamento, e ambas foram respondidas corretamente pela maioria das mulheres (75,3% do setor público e 77,9% do setor privado, p=0,7%) (afirmativa 8), e (79,6% do setor público e 73,1% do setor privado, p=0,1) (afirmativa 12) (Tabela 4).

No tocante às afirmativas que se referem à relação existente entre idade e incontinência urinária, a maioria das mulheres dos dois grupos (68,8% do setor público e 64,4% do setor privado, p=0,8) responderam corretamente ao discordarem com a afirmativa 1, que diz que a perda involuntária de urina é um dos resultados do envelhecimento normal. No entanto, minoria das mulheres de ambos os grupos, 38,7% do setor público e 28,8% do setor privado (p=0,1), discordaram da afirmativa 2 em que a maioria das pessoas perderá o controle da urina de forma regular, quando chegarem aos 85 anos (Tabela 4).

Quanto as afirmativas que versam sobre a relação existente entre médico e paciente, responderam corretamente a afirmativa 7, ao discordarem que a maioria dos médicos pergunta para seus pacientes mais velhos se eles têm problemas de controle da bexiga, 69,9% das mulheres do setor público e 77,9% das do setor privado (p=0,1). Entre as mulheres entrevistadas, 38,7% do setor público e 59,6% do setor privado (p=0,004) discordaram com a afirmativa 9, que diz que a maioria das pessoas com perda involuntária de urina conversa com seus médicos sobre isso (Tabela 4).


DISCUSSÃO

A incontinência urinária é uma afecção que afeta de forma significativa a qualidade de vida das mulheres8,12. Sendo que tal influência varia conforme dados econômicos, sociais e culturais8,12. Muitas mulheres com incontinência urinária e qualidade de vida prejudicada não procuram assistência 7,25. A proposta desse estudo foi determinar se fatores sociais e educacionais poderiam influenciar no reconhecimento da perda involuntária de urina como doença.

Os grupos apresentaram diferença significativa no tocante à escolaridade e à renda familiar, demonstrando verdadeira diferença socioeconômica.

Os resultados desse estudo mostram que a prevalência de incontinência urinária em mulheres acima de 40 anos de idade foi de 20,3%. Um pouco inferior à de outros estudos na população brasileira (26,2% a 43%)5,9,10,11. Mas, superior à prevalência de 16,4% de mulheres com perda involuntária de urina encontrada em um estudo com 213 mulheres com média de idade de 44,3 anos em Campinas, São Paulo7.

No setor público, 26,9% apresentaram incontinência urinária e no setor privado, 14,4% (p=0,03), apesar de alguns autores demonstraram não haver diferenças no risco de incontinência urinária em relação ao nível socioeconômico10. Tal achado pode ser explicado pela diferença no número de gestações entre os dois grupos, assim como na quantidade de partos vaginais. A gestação por si só é considerada fator de risco para incontinência urinária14. A incontinência urinária ocorre em aproximadamente 1/3 a metade de todas as mulheres grávidas, acreditando-se ser causada por uma combinação de fatores hormonais e mecânicos10,25. Quando comparado com nulíparas, tanto o parto vaginal como o cesáreo mostraram aumento do risco para incontinência urinária2,14,20. No entanto, o parto vaginal isoladamente não é o causador da incontinência urinária e sim, quando associado a lesões e traumas do assoalho pélvico2,14,20.

Em nosso estudo, entre as mulheres incontinentes do setor público, 52% procuraram assistência médica e no setor privado, 60%. Prevalências baixas, assim como a encontrada em dois diferentes estudos em Campinas, no estado de São Paulo (34,3%7 e 58,8%19).

Mais da metade das mulheres dos dois grupos concordaram ou discordaram corretamente das afirmativas do questionário aplicado que abrangia conhecimentos sobre incontinência urinária, como tratamento e efeito, causas, relação entre idade e incontinência urinária e relação médico/paciente. Isso evidencia que independente do nível socioeconômico, o nível de conhecimento sobre incontinência urinária é equivalente. Em outro estudo realizado em Massachusetts (EUA), porém, observou que indivíduos mais jovens, mulheres ou que tinham maior educação formal respondiam mais corretamente o questionário24.

Em um estudo conduzido na cidade de São Paulo, identificou-se falta de conhecimento, atitudes negativas e desinformação sobre vários aspectos da incontinência urinária11. Foi reportado que das 14 afirmativas contidas no questionário sobre incontinência urinária, a maioria da população do estudo concordou ou discordou corretamente em apenas três afirmativas11. No nosso estudo, a população selecionada respondeu corretamente nove das 14 afirmativas.

Em estudo conduzido em Hong Kong, evidenciou-se que entre um grupo populacional com predominância de nível superior de escolaridade, 78,3% dos entrevistados não sabiam que a incontinência urinária de esforço é uma entidade mórbida, e 60,6% consideraram que o vazamento de urina foi um processo de envelhecimento normal26.

Em mulheres trabalhadoras na Dinamarca observouse que um terço das que eram incontinentes acreditava que a incontinência urinária é um problema importante para se resolver, 46% disseram que este problema necessitava de providências; aproximadamente 40% responderam que não sabiam como amenizar o problema e 10% que não podiam melhorá-lo, 81% solicitaram mais informações sobre as causas, diagnóstico, tratamento e manejo da incontinência urinária27.

A aplicação do questionário sobre incontinência urinária em um grupo de 117 mulheres, de uma comunidade rural, com mais de 55 anos observou que mais da metade indicou incorretamente que incontinência é um resultado normal da idade avançada28. Quase um terço dos inquiridos acreditou incorretamente que a maioria das pessoas se torna incontinente quando atingem mais de 85 anos de idade28. Em nosso estudo, mais da metade das mulheres nos dois grupos discordaram corretamente do fato de a incontinência ser um resultado normal da idade avançada. Porém, a minoria discordou que a maioria das pessoas se torna incontinente quando atingem mais de 85 anos de idade.

Este estudo focou dois grupos de mulheres com diferenças socioeconômicas, da região nordeste do Brasil que apresentaram grau de conhecimento sobre incontinência urinária maior do que em estudos similares11,26,27,28. Cumpre ressaltar que o tamanho da amostra de cada grupo foi pequeno se comparado ao de outros estudos11,26,27,28, e que a população do serviço público avaliada, onde se esperaria menor grau de conhecimento, foi proveniente do Hospital Universitário onde há vários estudantes e profissionais da área de saúde habituados a fornecerem orientação aos pacientes. Talvez, então, uma maior casuística e a avaliação de pacientes de unidades básicas de saúde de regiões mais periféricas da cidade pudessem ter demonstrado alguma diferença.

Estimula-se, assim, mais trabalhos com maior casuística e população mais diversificada para melhor abordagem deste tema que tanto interfere na qualidade de vida das mulheres.


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1. Mestrado (Professora assistente da Universidade Federal de Sergipe)
2. ACADEMICA MEDICINA (ACADEMICA DE MEDICINA)
3. ACADEMICA DE MEDICINA (ACADEMICA DE MEDICINA)

Universidade Federal de Sergipe

Daniela Siqueira Prado
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