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Artigos Originais

Nível de satisfação de parturientes assistidas por equipe de fisioterapia

Level of Satisfaction of Parturients Assisted by Physiotherapy Team

Patrícia Cardoso Clemente1,2; Débora de Paula Rodrigues3; Giulia Duarte Lougon Borges Mattos e Albuquerque3; Mayara Jesus de Oliveira Lopes3; Nathalia de Souza Abreu Freire2

1. Coordenadora de Estágio Supervisionado do curso de Fisioterapia da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora – SUPREMA
2. Docente do curso de Fisioterapia da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora – SUPREMA
3. Fisioterapeuta graduado (a) pela Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora – SUPREMA

Endereço para correspondência
Nathalia de Souza Abreu Freire
Alameda Salvaterra, nº 200, Bairro Salvaterra
CEP 36.033-003 - Juiz de Fora/MG
Telefone: (32) 2101-5000
E-mail: nathyfst@gmail.com

Resumo

INTRODUÇÃO: A assistência fisioterapêutica durante o trabalho de parto pode reduzir o quadro álgico e o tempo de força expulsiva, além de favorecer o relaxamento.
OBJETIVO: Identificar o nível de satisfação das parturientes assistidas por equipe de fisioterapia.
MÉTODOS: Ensaio clínico de braço único, prospectivo e transversal. Participaram 20 parturientes alfabetizadas, idade superior a 18 anos, na fase ativa de trabalho de parto. Os procedimentos de pesquisa incluíram abordagem inicial com avaliação da sensação dolorosa, assistência fisioterapêutica e avaliação da assistência recebida por meio de instrumento próprio.
RESULTADOS: O perfil sociodemográfico apontou média de idade 24 ± 6 anos, reduzida escolaridade e renda familiar. A média de respostas "concordo" foi de 4 ± 3% (variando de 0 a 10%) e 96 ± 3% (variando de 90 a 100%) para "concordo totalmente".
CONCLUSÃO: A assistência fisioterapêutica foi considerada satisfatória pelas parturientes atendidas.

Palavras-chave: Modalidades de Fisioterapia; Trabalho de Parto; Parto Normal; Dor do Parto; Parto Humanizado.

 

INTRODUÇÃO

No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde (2010), três milhões de nascidos vivos são registrados por ano no país. Destes, 2,1 milhões nascem em unidades do Sistema Único de Saúde (SUS), 1,4 milhões dos quais são partos normais e 670 mil cesarianas. Ainda assim, segundo o relatório "Situação Mundial da infância 2011"1, a taxa de partos cesáreos no Brasil é a maior do mundo e corresponde a 44% do total de partos realizados. Para se adequar ao recomendado pela Organização Mundial de Saúde o Brasil terá que reduzir em até três vezes esse índice2. Em nosso país, a condição socioeconômica se relaciona diretamente com a probabilidade de parto cesáreo, tendo na região Sudeste a maior prevalência (45%) e a região Nordeste, a menor (25%)3.

Entende-se por parto normal, natural ou vaginal aquele com inicio espontâneo e feto em posição de vértice com 37 e 42 semanas concluídas2. De acordo com o "Guia dos Direitos das Gestantes e do Bebê" publicado pelo Fundo das Nações Unidas para Infância1, na maioria dos casos, o parto natural e humanizado deve ser encorajado por ser seguro e saudável, tanto para a criança quanto para a parturiente4,5.

Sabe-se que o trabalho de parto pode resultar em dor intensa, desencadeando respostas fisiológicas e emocionais potencialmente prejudiciais para mãe e bebê, reforçando a aversão ao parto vaginal5-7 e aumentando a necessidade de analgesia1. A utilização de métodos farmacológicos de analgesia é uma opção, porém passível de efeitos indesejáveis ao binômio mãe-filho8. Diante desse fato, métodos não farmacológicos têm sido estudados, tais como massoterapia, exercícios respiratórios, crioterapia, eletroanalgesia, adoção de posturas verticais e estímulo à deambulação, banho quente e exercícios sobre bola suíça9.

O acompanhamento fisioterapêutico no trabalho de parto não é uma prática comum no Brasil e nem está inserida no rol de procedimentos oferecidos às parturientes pelo Sistema Único de Saúde. Porém esse profissional pode somar à equipe de assistência perinatal na medida em que é capacitado para orientar e conscientizar a parturiente, tornando-a mais segura, confiante e participativa. A participação do fisioterapeuta na assistência obstétrica valoriza a responsabilidade da gestante no processo do parto, por meio do uso ativo do seu corpo, estimulando-a a usá-lo em favor do nascimento10-12.

Embora o fisioterapeuta seja um profissional com competência para assistir a parturiente, no Brasil poucos são os serviços que contam com sua presença. Neste sentido, torna-se importante aumentar o corpo de evidências relativo a esta temática, de modo a difundir o conhecimento científico e estimular a presença do fisioterapeuta na assistência à parturiente. Neste contexto, foi objetivo do presente estudo identificar o nível de satisfação das parturientes assistidas por equipe de fisioterapia.


MÉTODOS

Tipo de estudo e Aspectos Éticos


Trata-se de ensaio clínico de braço único, prospectivo e transversal, estruturado conforme resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde e aprovado por Comitê de Ética da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora, parecer 0051/12.

Critérios de Elegibilidade e Inclusão

Foram elegíveis mulheres em trabalho de parto admitidas no Centro de Parto Normal de um Hospital público de Juiz de Fora, Minas Gerais, nos dias e horários em que a equipe de fisioterapia estava no Centro de Parto, ao longo de 6 meses não consecutivos.

Parturientes alfabetizadas, idade superior a 18 anos, na fase ativa de trabalho de parto de risco considerado eventual pela equipe de assistência do Centro de Parto e que aceitassem assistência de estagiários do Curso de Fisioterapia, foram os critérios de inclusão.

Características e Tamanho da Amostra

Amostra não randomizada com tamanho determinado ao longo do tempo de coleta. As parturientes admitidas no Centro de Parto Normal foram abordadas, informadas sobre os procedimentos de pesquisa e questionadas sobre seu interesse em dela participar. Das 53 parturientes elegíveis, 20 atenderam aos critérios de inclusão, compuseram a amostra de pesquisa e assinaram Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Procedimentos de Pesquisa

Três pesquisadoras se revezaram nos procedimentos de pesquisa que incluíram a) abordagem inicial e avaliação da sensação dolorosa, b) assistência fisioterapêutica e c) avaliação da assistência recebida.

Inicialmente as parturientes responderam questionário com informações referentes ao perfil sociodemográfico e identificaram o nível de dor através da escala visual analógica.

A assistência fisioterapêutica teve por objetivos reduzir a dor percebida, favorecer a sensação de bem estar e contribuir com a boa evolução do trabalho de parto. Foi baseada em exercício terapêutico, deambulação, orientação respiratória, massoterapia e banho de chuveiro (Tabela 1) e somente finalizada após o nascimento do bebê.




Considerando a individualidade do processo de parturição, optou-se por não manter protocolo préestabelecido. Por esta razão, número de repetições e séries de exercícios ou movimentos, bem como tempo de repouso e ordem em que os recursos foram utilizados foi determinado pelas necessidades de cada mulher.

Dúvidas acerca do trabalho de parto trazidas espontaneamente pelas parturientes foram sanadas com a finalidade de deixa-las mais tranquilas e confiantes frente ao processo de parturição.

Após o parto, quando a mulher foi conduzida ao quarto para repouso, outra pesquisadora a contatou para a avaliação da assistência recebida. Para esta investigação foi elaborado questionário estruturado e auto administrável fundamentado em estudos que avaliaram a satisfação com o atendimento fisioterapêutico de maneira geral. As respostas foram estabelecidas na forma de cinco descritores que variam de "concordo totalmente", caso considerasse a afirmativa totalmente verdadeira, a "discordo totalmente", caso considerasse a afirmativa totalmente falsa (Tabela 2).




Análise Estatística

O Pacote Office Microsoft Excel, versão 2007, foi utilizado para entrada e análise dos dados. A análise do perfil sociodemográfico da amostra foi feita por meio de estatística descritiva (média e porcentagem), assim como os demais resultados.


RESULTADOS

Compuseram a amostra deste estudo, 20 mulheres com média de idade 24 ± 6 anos (variando de 18 a 42 anos), 45% das quais tinham ensino fundamental incompleto e apenas 5% concluíram o ensino superior (figura 1). Dez por cento se declararam etilistas e 15% tabagistas.

Quanto ao estado civil, 50% eram casadas, 45% solteiras e 5% divorciadas. Já o perfil profissional da amostra foi bastante variável e a renda familiar média referida foi de 2,0 ± 1,0 salários mínimos (variando de 1 a 4 salários mínimos).

Das 20 parturientes, 60% eram primíparas. Constatou-se que entre as multíparas, 35% realizaram parto vaginal e destas, 30% experimentaram episiotomia, fórceps e ou lesão perineal.

No que se refere ao trabalho de parto em curso, identificou-se que a dilatação média no início da assistência fisioterapêutica foi de 4,4 ± 2,6 cm (variando de 1 a 9 cm), a dor inicial média 7,1 ± 3,7 (variando de 0 a 10). Registrou-se que 95% evoluíram para parto vaginal e 5% para cesariana. 44De acordo com o questionário de satisfação a média de respostas "concordo" foi de 4 ± 3% (variando de 0 a 10%) e 96 ± 3% (variando de 90 a 100%) para "concordo totalmente" (Tabela 3). As demais opções de respostas não foram registradas





DISCUSSÃO

A escala visual analógica foi utilizada com intuito de mensurar a dor da parturiente. A proposta de Knobel et al.(2005)13 vai ao encontro do presente trabalho, uma vez que para avaliar cuidado, satisfação das parturientes e métodos analgésicos utilizados durante o trabalho de parto, também utilizou a escala visual analógica para mensuração da dor.

O questionário para avaliação da satisfação das parturientes foi estruturada a partir de artigos que avaliaram a satisfação quanto a atuação fisioterapêutica de maneira geral14,15. No presente estudo, identificou-se elevada satisfação com a assistência recebida. A presença de profissional capacitado ao lado da parturiente, em tempo integral, reduz sua ansiedade e aumenta a sensação de conforto e acolhimento, tornando a experiência mais agradável e menos traumática16.

Ademais, há ainda expressiva lacuna cientifica na avaliação real da satisfação da parturiente, devido à dificuldade em criticar o serviço e os profissionais que a assistem. Acrescenta-se ainda a sensação de alívio que e segue ao parto, abandonando eventuais experiências negativas vivenciadas no processo17.

O fisioterapeuta é um profissional que, no Brasil, não está ainda amplamente inserido nos serviços de assistência obstétrica. No entanto, tem potencial para orientar e conscientizar a parturiente quanto ao que será exigido da mesma nesse momento, o que a torna mais segura e confiante. Ademais, pode utilizar-se de estratégias importantes à progressão do parto, tais como estímulo à deambulação, exercícios respiratórios e de relaxamento, massagens e banhos quentes, e ao bem estar da parturiente9-12.

A Massoterapia é um dos meios mais naturais de aliviar a dor e o desconforto, atenuando a ansiedade e o estresse, promovendo relaxamento muscular e diminuição da fadiga. Estimular a respiração correta também promove o relaxamento, aumenta a concentração e diminui os riscos de traumas perineais no momento expulsivo, além de melhorar a oxigenação para mãe e bebe. O banho quente no primeiro estágio do parto reduz a sensibilidade dolorosa e parece ser uma boa opção de analgeia9.A adoção de posturas verticais e a mobilidade materna durante o trabalho de parto são eficientes a dinâmica uterina9,18,19. Exercícios sobre bola suíça, além de permitirem a verticalidade corporal, possibilitam o balanço pélvico e favorecem a descida fetal no canal de parto19. Todas estas estratégias foram utilizadas com as parturientes do presente estudo, de modo individualizado, e foram bem aceitas por elas, o que pode justificar a elevada satisfação com a assistência recebida no período perinatal.

A crioterapia, embora seja uma das mais antigas formas de analgesia, não foi aceita por nenhuma parturiente. A eletroanalgesia não foi cotada como estratégia terapêutica neste trabalho.


CONCLUSÃO

Os resultados do presente estudo permitem concluir que a assistência fisioterapêutica individualizada com foco na redução da sensação dolorosa foi considerada satisfatória pelas parturientes atendida.


REFERÊNCIAS

1. Guia dos direitos da gestante e do bebê. 1st ed. São Paulo: UNICEF; 2011.

2. Organização Mundial da Saúde 1996.

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6. Apolinário D, Rabelo M, LDG Wolf, Souza SRRK, Leal GCG. Práticas na atenção ao parto e nascimento sob a perspectiva das puérperas. Rev Rene. 2016; 17:20-8

7. Costa B, Figueiredo A, Pacheco A, Pais A. Parto: expectativas, experiências, dor e satisfação. Psic Saúde Doenças 2003; 4:47-67.

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9. Angelo PHM, Ribeiro KCL, Lins LG, Rosendo AMPHA, Sousa VPS, Micussi MTABC. Recursos não farmacológicos: atuação da fisioterapia no trabalho de parto, uma revisão sistemática. Fisioterapia Brasil 2016; 17: 285-92.

10. Padilha JF, Gasparetto A, Braz MM. Atuação da fisioterapia em uma maternidade: percepção da equipe multiprofissional de saúde. Fisioterapia Brasil 2016;16.

11. Souza APK, Ramos DJS. Fisioterapia e humanização do parto: uma análise partir de documentos oficiais da saúde. Revista Fisioterapia & Reabilitação 2017;1: 11-23.

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13. Knobel R, Radünz V, Carraro TE. Utilização de estimulação elétrica transcutânea para alívio da dor no trabalho de parto: um modo possível para o cuidado à parturiente.Texto Contexto Enferm 2005; 14:229-36.

14. Mendonça KMPP, Guerro RO. Desenvolvimento e validação de um instrumento de medida da satisfação do paciente com a fisioterapia. Rev Bras Fisioter 2006;11: 370-74.

15. Suda Ey, Uemura MD, Velasco E. Avaliação da satisfação dos pacientes atendidos em uma Clínica Escola de Fisioterapia de Santo André, SP. Fisioter Pesq 2009;16: 126-31.

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